Near the old garden - Andrej Zadorine |
olhando para pés de goiaba eu lembro de minha infância:
bate-bola, esconde-esconde, mãe-da-rua, jogo-de-botão
fubeca, casa na árvore que nunca tive... e o barraco,
no fundo do terreno em frente de casa
onde aprendi a comer com a mão, sob a luz de lampião.
aprendi a colecionar coisas com mãe, e cândido,
cultivava e cultivava... como Voltaire em seu jardim
naquele tempo todos éramos felizes, geralmente
à noite conversava com fantasmas à luz de velas
ninguém deveria voltar ao passado,
como ninguém deveria voltar aos lugares da infância
pois sempre haverá o risco de descobrirmos
que haviam outras maneiras de passar uma vida
meus fantasmas lá fora, batendo à porta
tal qual acontecia com pai (só que com ele
os fantasmas não se foram com o tempo)
e tudo o que queremos, creio, é alguém que nos conheça
tão bem quanto nós mesmo - ou melhor!
surpreendente como uma carta póstuma
pode, em poucas palavras, revelar uma vida
assim, violácea... purpúrea...
abrindo-se toda para os céus...